Esse termo “Ownado” é nossa versão aportuguesada do termo inglês “Owned”.
No contexto dos Jogos Virtuais essa gíria “Owned” é usada quando um jogador vence o outro de forma extraordinária. Assim, dizer que alguém foi “Ownado” significa que ela foi derrotada ou humilhada e/ou que o vencedor foi muito superior.
A lembrança mais forte de me sentir assim, “ownado”, numa mesa de Poker, aconteceu em Março de 2012, no Tower Cruise VI, um torneio de Poker que era realizado dentro de um grande Cruzeiro/Navio. A proposta do evento era bem interessante.
Naquela época eu tinha pequena experiência em grandes torneios Ao Vivo, acho que ainda não tinha jogado Main Event do BSOP, apenas paralelos do BSOP e Circuitos Regionais.
Mas isso não era problema, eu sabia que o Field que eu ia encontrar era o mesmo que jogava no antigo site Tower Torneos, um field composto em sua maioria por senhores recreativos que apreciavam uma boa viagem em família, tendo o Poker como entretenimento central.
A estrutura do torneio era boa e lá fui eu com meu registro garantido no dia 1B. Sentei-me à mesa e aparentemente ela estava tranquila, como de costume, muitos senhores querendo diversão.
Mas, com meia hora de jogo eu já percebi que o rapaz sentado duas posições á minha esquerda era “perigoso”.
Até então eu não o conhecia, mas depois fui pesquisar e descobri que se tratava de Guilherme Chenaud, na época já profissional, o “Trona ZipTet” do PokerStars.
A própria postura dele na mesa já entregava que ele não estava ali numa viagem de lazer e sim pra “matar” a mesa, crescer seu Stack e ir para as cabeças do torneio.
Fica a dica para quem joga Live, esteja sempre presente na mesa, focado no que acontece nela, com postura ereta, olhando nos olhos de cada adversário e coletando o máximo de informação possível.
Era assim que o Chenaud jogava, mas só postura e “cara feia” não ganha jogo, então eu comecei a tentar imprimir meu ritmo de jogo, dar ação para a mesa.
Só que aquela mesa parecia que tinha dono, Chenaud estava se envolvendo na maioria das mãos, ele sabia que possuía nível técnico bem superior ao da mesa e estava levando a maioria dos Pots no Pôs-Flop, a qualidade técnica dele me surpreendeu, ele construía grandes blefes ou grandes potes de valor, de maneira coerente, era muito difícil saber em qual range ele estava.
Eu aceitei essa pequena “Ownada” e optei estrategicamente por jogar mais sólido já que na maioria das mãos ele teria posição sobre mim.
Chenaud continuou dominando a mesa e construindo seu Stack num volume impressionante.
Até que o DC, famoso e respeitado Diretor de Torneio e Diretor-Geral do BSOP, chega e anuncia que a mesa estava sendo quebrada! Acho que a mesa inteira, menos o Chenaud, deu um grande “UFA!”.
Cartão de posição na mão, fichas no rack e fomos lá atrás da nossa nova mesa.
Quando encontrei, quem estava lá, sentando nela? Acertou quem disse Guilherme Chenaud. Só que dessa vez ele estava duas posições à minha direita.
Pensei comigo: “Agora é a minha vez de explorar o “malandro” tendo posição”.
Heheheh, tadinho de mim!
Com a vantagem da posição eu tentei entrar num Level maior contra ele, mas parecia que ele tinha um Raio X ou que eu era um Livro Aberto, nada do que eu tentava contra ele funcionava.
Quando eu 3-betava Light ele me 4-betava, a única vez que eu 3-betei valor ele desligou; quando eu “Flatava” meu range forte ele me explorava de alguma forma, quando eu “flatava” meu range fraco, Conector-Suiteds, etc.. buscando Hitar o bordo ele me explorava de outra forma.
Até que no meio do torneio, já desconcentrado, optei por jogar um Par de Valetes no Big Blind apenas de Flat-Call, quando ele subiu do Cut-Off.
Um Erro, eu já tinha criado Level de 3-Bet Lights contra ele, era a hora de tentar achar alguma grande ação Pré-flop. Ainda mais que ele estava muito agressivo com range gigantesco de open raise do CO, se ele paga uma 3-Bet já daria pra enxugar uma parte desse Range.
Eis que o FLop bate 6 8 9, (rainbow – naipes diferentes)
Em teoria, um bordo bom pra JJ e bom pra quem “defendeu” o Big Blind de Call e pode representar um range que acerta esse Flop.
Dei Check, ele apostou; eu dei Raise por Valor e para realizar a equidade da minha mão já que teriam muitos Turns ruins que poderiam me “freiar” e/ou melhorar a mão dele.
Ele pagou o meu check-raise (o que já da uma esquisitada); no Turn bateu uma Blank (uma carta que não muda a textura do bordo), tipo um 2, eu apostei novamente representando que acertei o Flop e ele me deu Raise;
Olha que situação, eu joguei a mão errado no Pré-Flop, e agora estou em um Spot complicado pro Turn, porque eu paguei o Raise já sabendo que não ia aguentar o bet do River, mas carregado pela emoção, ainda nutria esperança de levar pro showdown com check-check River;
Muita inocência, o River veio um 4, eu dei check e ele me colocou em All-In. Obviamente ele ia fazer isso por Valor ou por Blefe, eu já estava vendido na mão. (joguei pessimamente mal; OBS* acredito também que ele tinha Valor).
Dei Fold e assumi mais uma “derrota”, o placar já estava tipo uns 12 a 1 pro Chenaud. Fui literalmente Ownado nesse dia. Heheheh.
Caí pouco tempo depois num Flip normal contra outro jogador da mesa.
Com essa surra técnica o aprendizado foi grande, não levar o Ego pra mesa foi uma delas. Chenaud é superior tecnicamente e querer “levelar” apenas por Ego jamais seria bom negócio pra mim.
Aprendi também a admirar o jogo desse Baiano. E, olha que de 2012 pra cá eu já trombei com vários outros grandes profissionais nas mesas, mas nenhum me chamou tanta atenção quanto o Chenaud.
Esse ano ele se juntou a duas outras Feras, meu amigo Bruno Foster (que dispensa apresentações) e o “dinossauro” Raul Oliveira, que também dispensa apresentações para os jogadores mais antigos, pros mais novos, saibam que ele tem mais de 15 anos de carreira profissional no Poker e enorme qualidade técnica.
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João Duque, 31 anos, Empreendedor, Brasiliense. Dedica parte do seu tempo ao grind e estudo dos “Torneios Turbos”, é Sócio-Diretor do Brasil Poker.
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Atualizado em 28/07/2017.