Por Humberto Alencar
O poker é um jogo de probabilidade, então mesmo que algo tenha apenas 5% de chance de ocorrer, esse evento acontecerá 1 a cada 20 vezes. E nada do que você fizer de maneira honesta mudará isso, você pode usar sua camiseta da sorte, pode dar três pulinhos, pode estar de óculos de sol, pode ser sexta-feira 13, enfim… Assim entender quais são as probabilidades do jogo ajuda a se focar no que é principal para um jogador: fazer a melhor jogada possível.
Se você entender esse conceito de verdade parará de falar frases como:
– Sua conta é muito boa!
– Sempre bate contra mim.
– Nunca segura comigo!
E por aí vai. Uma coisa é torcer! Se divertir. “Pedir” uma carta para divertir. Ficar feliz quando ganha, com educação é claro. Outra é simplesmente não entender a matemática do jogo.
Estava eu no Main Event de um torneio do Tower/888 em Estoril/Portugal em 2013 pagando 33mil euros para o primeiro, tinha passado Chip Leader para o dia 2, então estava colocando muita pressão no dia 2 já perto da bolha.
Quando estava literalmente na bolha e hand for hand, abro raise de TT de early position. Todos dão fold e o Big Blind vai all-in. Eu dou call. Nesse momento o dealer pede para segurar e não dar showdown porque havia outro all-in/call em outra mesa.
Enquanto esperávamos o Big Blind não se conteve, perguntou o que eu tinha e disse que tinha um par de QQ. Assim todos da mesa já sabiam que eu tinha TT e o Big Blind tinha QQ antes mesmo do showdown. Um amigo que estava na torcida perguntou para os portugueses da minha mesa qual era o dono da camisa 10 da seleção de futebol de Portugal. Disseram: “Vieirinha!!!”
Resultado na outra mesa o all-in/call não deu em nada, o short stack dobrou e a bolha continuou. Assim todas as atenções se voltaram para minha mesa. E a galera brasileira liderada pelo saudoso Paulinho Madrugada, jogador regular de Brasília, começa a gritar pelo 10 no flop: “Vieirinha!!Vieirinha!!!Vieirinha!!”
O dealer abre um flop rainbow com um T na tampa!!!! T 2 5 .
Os amigos brasileiros não satisfeitos continuam gritando: “Vieirinha!!Vieirinha!!Vieirinha!!”.
Então o dealer vira outro T no turn para matar qualquer chance do Big Blind ganhar a mão.
Obviamente foi divertido, e nunca esquecemos dessa história, até o português que caiu saiu rindo! É óbvio que gritar “Vieirinha!” não muda as cartas que viriam no Board, mas chama a atenção. Talvez por isso alguns jogadores possuam tantas supertições e se concentram em fatores externos ao jogo, fazem relações sem amostragem e claramente supersticiosas.
Vejo que muitos jogadores bons de poker têm algumas supertições como o dealer que dá azar, roupa que dá sorte, protetor de carta que dá sorte, e por aí vai.
Acho que é importante deixar a parte sem sentido matemático de lado e focar na parte fora do jogo, que de fato pode influenciar, ter dormido bem, ter comido bem, não estar com vontade de ir ao banheiro durante uma jogada etc. Esse tipo de coisa eu sempre observo, se as jogadas fluem melhor em quais ocasiões. Em que circunstâncias eu tomo as melhores decisões. Acho isso fundamental. Obervar o que de fato influencia objetivamente nos seus resultados, e que tem um embasamento lógico, e não roupa da sorte, ficha da sorte, dealer A ou B etc.
Vamos exemplificar, suponhamos que você joga cash game live durante três vezes por semana (segunda/quarta e sexta). E após quase um ano, nota que costuma ir bem todos os dias e ir muito mal nas sextas-feiras, então você pode começa a fazer associações com ou sem sentido.
Sem sentido:
– O Dealer de sexta me dá azar.
– Sexta-feira eu vou jogar de bermuda e isso me dá azar
– Sexta eu jogo mais cedo, jogo à tarde, à tarde eu tenho azar. Só tenho sorte a noite.
– Sexta feira me dá azar. Não vou jogar mais sextas.
Com sentido:
– Saio toda quinta-feira à noite e acordo cedo na sexta-feira. Chego cansado para jogar e acho que não estou tomando as melhores decisões
– Os meus adversários de sexta são mais difíceis.
– Chego para jogar na sexta com fome e não tomo as melhores decisões.
– Jogo sem foco porque fico pensando na balada do fim de semana.
– Não tenho amostra suficiente para concluir nada.
E por aí vai, notem que é possível fazer qualquer associação. Quanto mais sem sentido for sua percepção, mais difícil enxergar quais fatores externos influenciam no seu jogo e usar isso ao seu favor.
Humberto Alencar.
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